sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sobre a Direção Musical d'O Velório



O processo de Direção Musical do Grupo Teatro da Neura começou com uma preparação musical muito antes da peça em si. Nós completos desconhecidos que um dia nos encontramos numa dessas “quebradas” do mundo do teatro. Assisti o trabalho deles, eles o meu e só uns bons meses depois é que resolvemos nos encontrar. Na pauta o convite pra fazer a preparação e a direção musical de um espetáculo que eles queriam montar. E lá se foram Cibele e Nicodemo de Suzano para o bairro da Pompéia em São Paulo, onde eu morava, pra gente almoçar e prosear sobre o tema. 
Papo vai papo vem, duas coisas me chamaram muito a atenção: uma cópia do texto pronto para mim e a garra que eles pareciam ter enquanto eu ouvia as histórias deles e do grupo. E quem faz teatro sabe da fibra que se precisa ter pra construir as coisas. E lá fui eu!! 
A preparação musical começou focada no conceito de Pulso. Exercícios práticos e auditivos pra reconhecer o pulso e compassos binários, ternários etc … Eu lembro que era muuuita energia e que todo mundo quase não se ouvia na hora de tocar e saiam tocando forte pra dedéu!! rsrs
O tempo passou, a novidade foi acabando, os laços foram se estreitando, as pessoas começaram a serenar e eu comecei a perceber as habilidades e as vontades musicais de cada um e a partir daí o trabalho começou a ganhar contornos e escoras mais firmes. Ator é bicho arredio na frente de músico … Foi só depois dessa intimidade construída que eles me mostraram um montão de músicas que eles já tinham feito. Era tudo brincadeira mas a brincadeira sempre esconde o que a gente quer dizer sério.... E a pedra preciosa já estava lá, quietinha, escolhendo a pessoa certa pra se mostrar. Foi lindo de ver!!
Bom, depois desse tempo veio a peça e começamos a montar O Velório. Nesse momento eu fui mais terapeuta que músico. Eu tenho pra mim que já que eles queriam tanto tocar, eles deveriam inventar as músicas e as “sonoridades” para as cenas que eles estavam levantando e só então discutíamos o que estava sendo feito, o que era legal e o que não era e foi assim que o trabalho foi amadurecendo. Eu tenho pra mim que eu não posso partir apenas de idéias minhas e que de cada integrante do grupo pode nascer algo precioso. Além do mais, o que estava nascendo ali não era somente a peça e sim a linguagem musical do Teatro da Neura e qual a relação que cada um de seus membros vai conseguir estabelecer com A Música dentro do grupo mas também para sua vida como artista. A arte é uma amante complicada ...
Outra tarefa foi a de incutir na cabeça do grupo que as cenas que estavam sendo montadas ou as músicas que estavam sendo compostas não eram definitivas e sim propostas. Daí o resto foi o trabalho de fazer, refazer, abandonar e fazer novamente. Agora é com muito orgulho que eu vejo o que construímos juntos nesses quase dois anos de trabalho. Uma honra trabalhar com vocês! Ensinei mas aprendi muito com vocês! Merda!!


Luis Aranha
Diretor Musical

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