terça-feira, 14 de maio de 2013

Sobre rumos e percussão.



Lembro-me como se fosse ontem da primeira leitura do texto, ainda fresco, todas e todos alí esperando o começo, o meio e o fim. O Velório foi e está sendo uma grande gratidão e aprendizado na minha vida tanto pessoal como artística, é falar de um processo intenso, com perdas e ganhos, descobertas, brigas, trocas, e uma nova linguagem de estudo, método e de encenação.

Um processo que me tirou de um conforto e me levou ao risco. Depois de anos tive a oportunidade de tocar um instrumento que até então, só tinha visto e admirado, um Atabaque, assim como outros. Um instrumento tão forte e profano. Com aulas e jogos musicais fomos juntos descobrindo, cada ritmo, momento, pulsação, controle, voz e sonorização. No começo do processo surgiram dúvidas e perguntas, tais como: Um espetáculo só com Mulheres? E nós, os homens do grupo? Sem Play e Pause? Músicas ao vivo? Realismo Mágico? Dia dos Mortos? E o apego? Uma Madre com um chifre de Bode? Dois mortos? Todas ruivas? Uma menina que anoitece? Traída de quinta pra sexta? Olha...Foram tantas, mais que depois todas as perguntas com o tempo foram respondidas, e tudo foi se encaixando.

Hoje nessa reta final, tenho orgulho de ver essas mulheres em cena, cada uma no seu modo de agir, cada uma no seu personagem intenso. Mulheres e Atrizes sagradas, com todo o meu respeito e admiração. Uma direção divina. Um texto Sacro.

O Teatro da Neura hoje é um Grupo que tem a capacidade cada vez mais de explorar os seus meios artísticos, e com esse processo nos trouxe um profissionalismo ainda maior. Evoluímos, ressurgimos, renascemos, e vamos contar a história de uma celebração. O Velório é um espetáculo vivo, delicado, feminino, é Santo, é um Altar e precisa ser respeitado.


André Antero
Ator do Teatro da Neura

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