segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre neuras e idiotas.





Há um mês da estréia do novo espetáculo do Neura, depois de ter vivido 1 ano e meio de processo, e sendo, visivelmente, a menos neurótica com toda a preparação pra essa reta final, posso chegar a uma conclusão curiosa: apenas um idiota dirigiria uma peça com 5 mulheres.

Mulheres são seres estranhos: tem graves oscilações de humor mensais, tem problema de relação a longo prazo com suas iguais, crises de confiança... enfim. Milhares de coisas tornam as relações de mulheres com OUTRAS mulheres muito difíceis, e na grandessíssima maioria das vezes, os homens simplesmente não entendem essas questões. Homens são seres muito mais simples, muito menos complexos (o que na minha opinião já torna as relações heterossexuais fadadas ao fracasso, mas isso é tema para outro texto para fora desse blog) e isso os torna incapazes de entender o que se passa na cabeça de uma mulher por apenas 5 minutos.

Isso piora muito quando se monta um espetáculo teatral com as 5 mulheres em questão. Todas nós temos características muito marcantes, presenças fortes e com opinião formadíssima sobre tudo. Não foram poucas as vezes que participamos de discussões acaloradas, trocas de ofensas e olhares torto uma para as outras. Muitas dessas ocasiões foram presenciadas pelos nossos rapazes, sempre com uma conclusão mais simples de toda a discussão, mas com medo de falar e levar uma sapatada na cara de qualquer uma de nós.

O maior mérito do Velório são as pessoas. Desde o gênio que escreveu o espetáculo (pra mim, de longe, o texto mais maduro do meu eterno parceiro de letras, Antônio), até os atores/músicos, o mocinho que faz nossa cenotécnica, o nobre da iluminação, até minhas parceiras, todos nós aguentamos todo o tipo de coisa e gente pra que esse espetáculo acontecesse. Chegar a viver esse frisson da estreia, já é tão lindo, tão precioso depois de tudo... Chegamos nesse momento sem rasgar a cara uma da outra na unha, sempre se perdoando, se entendendo, se abraçando depois da briga, se substituindo, se chamando de louca com sorriso nos lábios.

Todo o processo foi permeado de delicadeza, inclusive nas dificuldades. Graças ao Velório conseguimos imprimir o ambiente profissional, mas cheio de doçura e amor, respeito e importância, tudo permeado por muita fé. Cada problema, cada boato, cada onda de inveja que nos alcançava era combatida com muita fé. E fé é um dom feminino. Mesmo que os homens também a tenham, a fé de uma mulher é inabalável.

Desafiando o senso comum da dificuldade feminina de se relacionar, Amabile, Cibele, Fernanda, Lígia, Patrícia e Tuane saíram (e sairão) vivas do sacro-processo do nosso defunto.

Tuane Vieira
Atriz e dramaturga do Teatro da Neura

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